quarta-feira, 8 de julho de 2009

Fito Paez lança no Brasil disco gravado na Espanha

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Juan Barreto/AFP

Não há canção no novo CD de Fito Paez que possa ser destacada como a melhor do disco. No sé si es Baires o Madrid, com 16 faixas, ao vivo, foi gravado em show no Palácio dos Congressos, na Espanha, em abril do ano passado, e reúne repertório marcante do roqueiro argentino, entre músicas recentes e outras que se tornaram ícones do cancioneiro hispano-americano. Juntas, elas são a mais rica compilação de Fito e têm qualidades para serem tomadas como um marco na trajetória do artista.

Várias razões colaboram para isto. Instrumentação irretocável, arranjos que se utilizam de referências tradicionais para construir sequências melódicas ao mesmo tempo sofisticadas e com forte capacidade de comunicação com plateia, além da performance de um artista em paz com suas decisões estéticas. O show também promove encontros memoráveis, em que Fito recebe no palco figuras emblemáticas, como o cubano Pablo Milanés, ou o duo espanhol Pereza, integrado por jovens instrumentistas. Com eles, Fito percorre passado e presente de uma literatura musical que não se esgota na trajetória de um único artista; atravessa gerações, com rebeldia e sensibilidade.

Mito Ao piano, o músico e compositor está à vontade. Garante às canções interpretação emocional, comovente, mas ao mesmo tempo madura. Favorecido pelo ambiente do show, com participação de público numeroso, ele se permite alguns arroubos, mas não passa da medida. Afinal, é impensável defender canção tão ideológica como Yo vengo a ofrecer mi corazón, em duo com Pablo Milanés – outro mito das canções de protesto – , sem que este momento represente uma espécie de visita a um passado cujas ideias se distanciaram pelo tempo, mas com conteúdo recorrente na atitude de Fito Paez como artista.

Nascido em Rosario em 1963, ele já não é um jovem em busca de utopias, mas continua se declarando como um cidadão do mundo, que coloca sua criação a serviço de ideais universalistas, contrários às arbitrariedades dos regimes totalitários e à desigualdade social que empobrece e entristece o planeta. Esta maneira de se comportar diante de dilemas existenciais propiciados pela conjuntura política na América Latina, ele anuncia em letras que muitas vezes são confundidas como canções de amor. E, de algum modo, não deixam de ser.

No sé si es Baires o Madrid também tem o mérito de apresentar cantores surpreendentes, pouco ou nada conhecidos no Brasil. Entre eles, está a excelente Gala Evora, com quem Fito Paez compartilha outro clássico, Un vestido y un amor, gravado por Caetano Veloso anos atrás.

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